O truque da natureza para garantir o efeito alucinógeno da ayahuasca.
Certamente muitos de vocês já devem ter ouvido falar da ayahuasca ou daime, aquela bebida alucinógena utilizada por grupos religiosos como a União do Vegetal, o Santo Daime, entre outras. Talvez muitos tiverem inclusive a oportunidade de experimentar essa bebida. Mas o que poucos devem conhecer é curiosa mistura de substâncias responsáveis pelo efeito da ayahuasca.
A ayahuasca era originalmente uma bebida utilizada por vários grupos indígenas da Amazônia, tanto em território brasileiro como no Peru, Equador e Colômbia. Seu uso era feito pelos pajés e chefes religiosos para diversos fins, entre eles para revelar a verdade, em rituais de iniciação, em rituais sociais masculinos, para cura de algumas doenças e também para que o pajé pudesse se conectar com o divino. A popularização dessa bebida ocorreu depois de 1987, quando seu uso para fins religiosos passou a ser reconhecido e protegido por lei no Brasil. Hoje ela faz parte de rituais em várias religiões de origem amazônica.
No inicio dos anos 70 alguns pesquisadores começaram a investigar tanto os efeitos como os componentes da ayahuasca e uma relação muito interessante foi descoberta.
Já se perguntou o que causa o efeito alucinógeno da ayahuasca?
Por ser preparado por várias tribos diferentes as plantas utilizadas na ayahuasca e o seu preparo podem variar um pouco. A mistura mais comum é feita com o caule do cipó Banisteriopsis caapi (conhecido com cipó-mariri, jagube, liana, mariri, yagé e caapi) e com as folhas da Psychotria viridis (chamada de chacruna, rainha ou chacrona). Essas plantas contém as substâncias que são responsáveis pelos efeitos da ayahuasca.
O principal componente fornecido pela Psychotria viridis à bebida é o DMT, uma substância alucinógena. O intrigante é que o DMT não é absorvido pela via oral, ele é degrado no fígado antes de chegar no sangue. Mas então como é que a ayahuasca tem efeito se é usada por via oral?
Eis a coisa interessante! Compostos presente na Banisteriopsis caapi inibem justamente a enzima que degrada o DMT, dessa forma o DMT consegue chegar no sangue mesmo sendo usado por via oral e assim produzir o efeito alucinógeno.
Algumas substâncias presentes na Banisteriopsis caapi também possuem efeito alucinógeno, mas são mais fracos que o DMT. As substâncias presente na Banisteriopsis caapi agem de maneira parecida com alguns medicamentos antidepressivos, elas impedem a degradação de determinados neurotransmissores, principalmente da serotonina. Já o DMT se liga em alguns receptores no nosso cérebro agindo de maneira parecida com o LSD, aquele alucinógeno sintético super moda nos anos 60 e 70, amigo da cultura hippie. Prometo um post só sobre o LSD em breve!
Não é incrível que em toda a Amazônia a mistura da ayahuasca permita justamente que o DMT seja absorvido? Eu acho bárbaro! Vários extratos de plantas utilizados tradicionalmente possuem componentes que somente juntos produzem o efeito para qual são usados, os componentes desses extratos quando isolados e utilizados individualmente não possuem a mesma atividade.
Atenção!!! A ayahuasca é considerada segura quando utilizada dentro dos grupos religiosos e preparada por pessoas que possuem experiência. Nada de sair misturando plantas por ai! Os efeitos adversos mais comuns são vômito, náuseas e diarreia, que ocorrem em muitos usuários de primeira viagem. Uma coisa importante de ressaltar é que, por ter substâncias que agem de maneira similar à alguns antidepressivos, pessoas que fazem uso dessas medicações não devem usar ayahuasca, pois o efeito antidepressivos pode ser potencializado e causar intoxicação.
Conhecer o uso tradicional de preparações a base de plantas vai muito além da química de cada componente. A ayahuasca quando utilizada dentro do seu contexto de tradição e religiosidade traz aos que a usam um sentido e cumpre um papel dentro daquela sociedade, o que é diferente de seu uso recreativo. Quando usada fora desse contexto, somente para dar “barato”, a ayahuasca perde a sua função e importância tradicional e passa a ser apenas mais uma droga como outra qualquer. Além disso, os alucinógenos são drogas que possuem o efeito alterado pelo local e situação onde são utilizados. Por isso os efeitos induzidos pela ayahuasca dentro das celebrações religiosas são influenciados pelos coordenadores do culto e pelo ambiente. Dessa forma, o efeito produzido por ela quando utilizado fora do ambiente de celebração pode ser diferente. É importante respeitar a cultura e a fé que envolve o uso da ayahuasca, bem como o uso tradicional de várias preparações a base de plantas.
Ficou com dúvida? Quer saber mais de ayahuasca e alucinógenos? Escreve pra gente! Como prometi em breve falaremos mais de alucinógenos e do LSD. Então segue o blog e a nossa página no facebook para não perder nada.
1. Imagens: “A trindade renova a terra, 2009” e “Recorda 2009” autoria Bruno 9Li (www.bruno9li.com)
2. Fontes: Rivier & Lindgren, 1972 (http://bit.ly/14e54q8) e Pereda-Miranda et al. Farmacognosia da planta ao medicamento. Cap. 36., 2003.
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Boa noite!
Existe uma iniciação alucionógena da ayahuasca na região de Pelotas para beber?