Microbiota: O mundo microscópico que habita nosso corpo

Numa galáxia muito, muito próxima, existe um mundo microscópico vivendo harmoniosamente no corpo humano.

Isso mesmo! Um mundo inteiro que nós não conseguimos enxergar que vive no nosso corpo. E mais, é responsável por várias funções que contribuem para o correto funcionamento do nosso organismo, inclusive por nos livrar de doenças.

Quer conhecer a comunidade microscópica que vive no seu corpo?

Antigamente chamada de flora, a microbiota humana refere-se aos microrganismos que vivem no corpo humano.

Mas onde eles estão?! A microbiota habita e desempenha papel importante no intestino, na vagina, na boca, nariz e em toda a extensão da nossa pele.

Esses microrganismo não estão apenas vivendo pacificamente no nosso corpo (uma relação chamada de comensalismo), eles estão trazendo benefícios para nós (uma relação chamada de mutualismo), exercendo muitas vezes função importantíssimas nos órgãos que habitam.

A microbiota presente no corpo de cada ser humano é levemente diferente. Essas diferenças se devem principalmente a idade, hábitos alimentares e ambiente em que vivemos. A maioria dos microrganismos que habitam nosso corpo são bactérias, mas pode existir uma quantidade muito pequena de fungos.

A nossa microbiota começa se ser formar no momento em que nascemos. Dentro do útero materno somos praticamente estéreis, quer dizer sem microrganismos. No parto normal, as bactérias presentes na vagina da mãe serão as primeiras a iniciar a formação da microbiota do bebê. Já no parto cesariana as primeiras bactérias a colonizarem o corpo do bebê serão as presentes no ar, na equipe médica e de enfermagem e as presentes na pele da mãe. Por esse motivo, a microbiota de crianças que nascem de parto normal se normalizam mais rapidamente (geralmente até o final do primeiro mês) do que as crianças que nascem por cesariana, que pode demorar até 6 meses para se estabilizar.

Em cada lugar do nosso corpo a microbiota tem um papel e possui uma constituição diferente.

lactobacilos

Lactobacillus sp. bactéria encontrada no intestino e na vagina. Importante regulador do pH vaginal.

Intestino:

Existem aproximadamente 10 trilhões de microrganismos no nosso intestino!!!! :0
As bactérias intestinais representam 60% do peso seco das nossas fezes. Mas elas não estão no nosso intestino somente fazendo volume. Elas desempenham diversas funções:

– auxiliam a nossa digestão, principalmente na digestão de carboidratos;

– estimulam a renovação celular das células intestinais;

– estimulam o correto funcionamento do sistema imunológico nessa região, vital para combater possíveis invasores causadores de doenças;

– por competição elas impedem o crescimento de microrganismos maléficos, causadores de diarreia. Talvez você já tenha tido a infelicidade de conhecer a importância dessa função feita pela microbiota intestinal: Quando tomamos antibióticos, alguns deles podem matar as bactérias do nosso intestino (já que antibiótico mata bactérias e não importa se elas são suas amigas ou não). Se a nossa biota intestinal diminui, por causa do antibiótico, é comum que ocorra diarreia, causada justamente pelo desiquilíbrio da nossa microbiota. Por isso a diarreia é um efeito adverso comum de antibióticos. O melhor tratamento para ela é recuperar a microbiota saudável com medicamentos probióticos compostos de microrganismos normais do nosso intestino.

Atualmente muitos estudos estão sendo feitos sobre a microbiota intestinal. Isso porque se descobriu que alguns tipos de bactérias que vivem no nosso intestino podem não ser tão boas e contribuírem para doenças como diabetes, alterações no colesterol, obesidade, doenças cardíacas, câncer e até mesmo Doença de Alzheimer. Mas os mecanismos exatos e a relevância disso para o desenvolvimento dessas doenças ainda precisa ser melhor estudado.

O que todas as pesquisas tem mostrado é que manter uma microbiota intestinal saudável é super importante para nossa saúde.

Sei que você deve estar preguntando: Mas como fazer isso?

Alguns alimentos contribuem para um microbiota intestinal saudável como os probióticos (leites fermentados e iogurtes), frutas e verduras. Mas o mais eficiente parece ser se manter longe de alimentos que prejudicam a microbiota saudável: produtos industrializados ricos em gorduras, fast foods, cigarro e álcool.

Vagina:

A vagina é colonizada principalmente por bactérias do gênero Lactobacillus. Isso mesmo! As mesmas presente nos leites fermentados! As bactérias Lactobacillus receberam esse nome por produzirem ácido lático. É o ácido lático produzido por elas que faz com que o pH da vagina seja ácido. O que é ultra importante porque inibe o crescimento de outros microrganismos maléficos para a vagina. Como, por exemplo, o fungo Candida albicans responsável por uma infecção vaginal chamada candidíase, ele está normalmente no meio ambiente, mas não consegue se proliferar na vagina por causa do pH. Quando ocorre um desequilíbrio na microbiota da vagina, o pH aumenta (pela falta do ácido lático) e a Candida albicans consegue se proliferar causando sintomas bem chatos como coceira, ardência e vermelhão.

Boca:

Já se perguntou porque algumas pessoas tem tanta cárie e outras não? Claro que os hábitos de higiene bucal não fundamentais para a saúde bucal, mas a microbiota da boca tem forte influencia no desenvolvimento de cáries e doenças na gengiva. Isso porque quem causa a carie são bactérias!!! Talvez ninguém tenha lhe dito isso, mas a cárie é causada por alguns tipos bactérias, capazes de se fixar nos dentes e gengivas. Quando essas bactérias se alimentam dos restos de açúcares que ficam nos nossos dentes, elas liberam ácidos que começam a furar os dentes, e é esse furo que chamamos de cárie.

Se uma pessoa tiver muitas bactérias capazes de causar cárie na sua microbiota bucal é mais provável que desenvolva cárie do que outra pessoa que possui uma menor quantidade dessas bactérias.

Os microrganismos que habitam nossa boca são fortemente influenciados pelos nossos hábitos alimentares e de higiene bucal. A microbiota bucal que levaremos para a vida adulta se estabelece por volta dos 2 anos de idade. Por isso antes dessa idade são comuns as infecções bucais por microrganismos chamados oportunistas, que se aproveitam do fato da biota não estar forte o suficiente e do sistema imunológico inexperiente da criança para causarem infecções. O chamado “sapinho” é uma infecção fúngica causada pela Candida albicans, convivemos com esse fungo normalmente, mas nas crianças pequenas eles são capazes de se proliferar muito causando a doença.

Para manter a boca saudável em todas as idades é importante manter ela livre de restos de alimentos. Para bebês é importante sim fazer higiene bucal! Inicialmente com fralda ou gaze húmida após as mamadas e depois dos 6 meses com escovinhas próprias para bebês. Isso ajuda na formação de uma microbiota bucal saudável com menor presença de bactérias causadoras de cáries.

Staphylococcus aureus bactéria presente principalmente na nossa pele, nariz e boca.

Staphylococcus aureus bactéria presente principalmente na nossa pele, nariz e boca.

Pele:

Cerca de mil espécies diferentes de bactérias habitam a nossa pele! Elas possuem efeitos benéficos como nos proteger de microrganismo causadores de doenças e estimularem o funcionamento do sistema imunológico. Mas elas também são responsáveis por coisas não tão boas, como odor das axilas e dos pés e por causarem espinhas. Por isso, assim como na boca, manter uma boa higiene da pele é fundamental para evitar os efeitos ruins provocados por essas bactérias.

Apesar dos microrganismos que habitam nosso corpo serem tão importantes, ainda se sabe muito pouco sobre eles. Em 2008 foi criado, pelo órgão de pesquisa estadunidense NIH (National Institutes of Health) um projeto de pesquisa chamado Projeto Microbioma Humano com objetivo de identificar e caracterizar os microrganismos que vivem no corpo humano e suas associações com a saúde e a doença.

Certamente ainda existem muitas descobertas a serem feitas sobre as funções desses inquilinos invisíveis do corpo humano.

Para saber mais:
http://1.usa.gov/1lZ4rdk
http://1.usa.gov/1Z6F4F6
http://1.usa.gov/1QeVM3R
http://1.usa.gov/1I27NXC
http://1.usa.gov/1Rj1wt7

Crédito de imagens: http://bit.ly/1Qn3jgRhttp://bit.ly/1SW3qOf e http://bit.ly/1YdoK2Y