Por que nos emocionamos?
Na semana passada um vídeo correu o mundo e encantou muita gente por mostrar um bebê de apenas 10 meses, Mary Lynne Leroux, se emocionando ao escutar a mãe cantando a música “My Heart Can’t Tell You No” de Rod Stewart. Se você ainda não viu dá uma olhada no vídeo aqui em baixo:
É impressionante não? Como será que um bebê tão pequeno pode se emocionar tanto com uma música cantada pela mãe? E não é que a gente também se emociona vendo a pequena derramando lágrimas e sorrindo? Mas por que isso acontece? Por que nos emocionamos com uma música ou com a cena de um filme? Por que choramos e nos sentimos tocados por uma situação que não está ocorrendo conosco?
No caso da bebê não podemos dizer ao certo o que está passando pela cabeça dela. Vários fatores podem levar a pequena a derramar lágrimas. Claro que ela não entende a letra de amor da música, então certamente não chora por isso. Os bebês são capazes de escutar dentro do útero a partir da 21ª semana, é possível que a mãe já cantasse essa música quando estivesse grávida e a bebê percebia toda a emoção da mãe ao cantar essa canção. Por serem capazes de escutar dentro do útero é que bebês reconhecem a voz da mãe e muitas vezes do pai e de pessoas próximas que falavam com ela antes de nascer.
No entanto, o que parece estar realmente envolvido na emoção deste bebê é algo chamado empatia. A empatia é a responsável por nos fazer chorar em filmes e novelas, é também responsável pelo medo e sustos que sentimos nos filmes de terror. Quem não se emocionou na cena clássica de novela em que a atriz Carolina Dieckmann raspa o cabelo por causa da quimioterapia? Por que choramos com a atriz mesmo sabendo que tudo aquilo não é real? Tudo isso é causado pela empatia minha gente!
Empatia é a capacidade de sentir as emoções e sentimentos dos outros como se fossem nossos. Mas como o nosso cérebro pode sentir os sentimentos de outra pessoa? Quase tudo parece ser dependente de uma região do nosso cérebro chamada de insula. A insula faz parte de um sistema complexo responsável pelas nossas emoções e prazeres, o sistema límbico (já falamos dele aqui). Estudos mostram que a insula é ativada quando vemos cenas de filmes que causam emoção, ela então ativa o sistema límbico e passamos a sentir as emoções do personagem como se fossem nossas. Mas pera ai como a nossa insula pode ser ativada apenas por ver outra pessoa sofrendo? Embora não se tenha 100% de certeza, tudo indica que isso seja causado pelos chamados neurônios espelho. Os neurônios espelho são neurônios que se ativam quando fazemos alguma ação especifica (por exemplo chorar de tristeza), mas que também se ativam somente por ver outra pessoa fazendo a mesma ação (ou seja outra pessoa chorando de tristeza). É como se o neurônio “imitasse” o comportamento de outra pessoa, como um espelho. Estes neurônios foram identificados de forma direta apenas em macacos, mas por medidas indiretas se acredita que eles existam também humanos e em alguns pássaros.
Qual a importância dos neurônios espelho? Os neurônios espelho parecem explicar muitas coisas no desenvolvimento humano e no processo evolutivo dos primatas. Os estudos com esses neurônios e com a neurociência da empatia são bem recentes, mas se acredita que os neurônios espelho tenham um papel fundamental no aprendizado da linguagem, já que a fala nada mais é que imitar os sons emitidos por outras pessoas. A empatia parece ser importante para a vida em sociedade e para o relacionamento entre os indivíduos, porque somente através dela podemos compreender que o outro individuo está sentindo.
Mas se as mesmas áreas cerebrais que ativamos quando sofremos são ativadas pelo sofrimento do outro, como o cérebro sabe que isso não está acontecendo conosco? Isso é uma ótima questão! A insula, aquela lá do sistema límbico, também recebe informações de outros órgãos do nosso corpo e de outras regiões do nosso cérebro, ela junta tudo e percebe que a situação não está ocorrendo com a gente. Vou dar um exemplo pra ficar melhor: vamos supor que vemos o nascimento de um bebê num filme, os neurônios espelho se ativam quando vemos a cena e produzem a ativação da insula e do sistema límbico, assim nos emocionamos e ficamos com os olhos mareados. A insula também está recebendo informações dos nossos batimentos cardíacos, dos músculos do nosso abdômen e percebe que não somos nós que estamos tendo um bebê. Ela também recebe informações das nossas memórias que não indicam, pro exemplo, que seria possível estarmos tendo um bebê. Nesse caso a insula fica “tranquila” e nos deixa lá com os olhos cheios d’água, mas sabendo que a situação não está ocorrendo com a gente.
No caso dos bebês a empatia e os neurônios espelhos são muito importantes. Lá pelos 4 meses eles começam a imitar tudo o que os pais fazem. Como eles conseguem imitar? Por causa dos neurônios espelhos! A função motora, a capacidade de caminhar, a fala, conseguir comer sozinho, tudo virá por imitação dos adultos e lá vão os neurônios espelho ajudar o bebê. A insula do bebê será ativada indicando se os pais estão felizes ou triste com uma atitude dele e assim a criança começa a viver em sociedade e entender suas regras.
A empatia está prejudicada em algumas doenças psiquiátricas e por isso os pacientes tem dificuldade de entender expressão faciais, compreender os sentimentos dos outros e lidar com situações de muita emoção. Isso ocorre no autismo, na esquizofrenia e em alguns casos de bipolaridade, e mostra o quão importante é a empatia para os relacionamentos sociais.
Voltando para a pequena Mary do vídeo, é provável que a insula dela tenha sido ativada ao ver o “sofrimento” e emoção da mãe ao cantar a música e por isso ela pode ter se emocionado. É possível que quando ela cresça e escute essa mesma canção no rádio ela também se emocione, mas isso será causado por outro motivo e não pela empatia. Quando escutar a canção daqui uns anos, mesmo que com outro interprete, a memória da mãe cantando esta música estará associada a ativação do sistema límbico, produzindo emoção novamente. Será que a pequena Mary será uma fã de Rod Stewart?
1. A neurocientista, Suzana Herculano-Houzel fala sobre empatia e insula –> http://bit.ly/HFgEAl
2. Para ler mais sobre esse tema –> http://1.usa.gov/1gpXFIv, http://1.usa.gov/1b3rZ7C, http://1.usa.gov/1iLeiLB, http://1.usa.gov/1ehFBPV , http://slate.me/1cCYFYU